Cursos 24 Horas - Ensino a Distância

quarta-feira, 5 de março de 2008

QUE VENHA O SEGUNDO TURNO

BEM, ESSA É UMA REFLEXÃO ANTIGA... MAS ATÉ QUE NÃO FICOU MAL...

Passaram as eleições. Pelo menos o 1º turno... Bem, o fato é que para presidente, a lógica não prevaleceu. O normal seria o Lula ganhar no primeiro turno. A meu ver, não ganhou por dois motivos: Os escândalos sucessivos que vêm ocorrendo desde o ano passado e, pasmem, a ausência de Lula no debate da Globo. Mais à frente retorno ao assunto.

Fazer uma análise dos quatro principais candidatos, torna -se obrigatória para qualquer pessoa com o mínimo de bom senso. Mas antes é preciso definir um conceito muito citado em épocas eleitorais, o conceito de revolução. Revolução é um movimento que muda totalmente a ordem anteriormente vigente, subverte os antigos padrões. Exemplo clássico, a Revolução Industrial Inglesa no século XVIII, movimento que mudou as estruturas produtivas que existiam até ali. Bem, explicado isso, vamos a nossa análise (ordem definida por nível de radicalismo):

HELOÍSA HELENA: Desde sempre radical. Era da ala radical do PT até ser expulsa do partido por excesso de radicalismo. Junto com Luciana Genro, Babá e outros radicais (um amigo meu quase assinou a lista de fundadores do partido) fundou o PSOL, que é um partido radical, “pero no mucho”. Pelo menos, não fala em dar calote na dívida externa, como o PSTU.

É certo que Heloísa tem uma forte história de Militância, é uma mulher engajada na causa política, e o principal, tem ideologia política. Muitas pessoas que conheço, inclusive meu pai, dizem que ideologia é besteira, que não importa como você entra, o que vale é estar lá dentro e aproveitar.

Saiu do PT porque já não concordava mais com a posição cada vez menos esquerdista e cada vez mais centrista que o PT vem adotando desde a campanha presidencial de 2002. Heloísa tem empatia com o povo e eloqüência. Seria uma excepcional candidata se tivesse mais experiência em cargos executivos, porque uma coisa é prometer sem saber se poderá cumprir, outra é prometer só o que sabe que poderá cumprir.

Confesso que não sei se Heloísa Helena já teve experiências em cargos no poder executivo, mas sempre que via ela na TV, seja no horário político ou nas vezes em que aparecia nos jornais ela me passava essa impressão de ainda não estava pronta para o cargo maior da República Federativa do Brasil.

CRISTÓVAM BUARQUE: Também era do PT e chegou a ser Ministro da Educação no início do Governo Lula, mas aos poucos foi sendo desprestigiado por alas do governo e acabou saindo antes do fim do primeiro ano de Governo. Após isso e também descontente com os rumos do PT, saiu do partido, filiando-se ao PDT. Sua base na campanha presidencial foi a Educação, tema ao qual está intimamente ligado, já que chegou a ser Reitor da Universidade de Brasília (Unb). E motivo de críticas durante todo o período eleitoral, porque para a imprensa o que vende (leia-se Rede Globo e todos os veículos de comunicação ligados direta ou indiretamente a ela) é falar da economia, que é bem mais importante, e não da educação, um tema pelo qual ninguém se interessa.

Cristóvam queria fazer uma revolução pela educação (ver o significado da palavra revolução no 2º parágrafo), adotando o sistema dos Cieps, escolas que funcionavam em tempo integral e onde as crianças entravam pela manhã e só saíam no fim da tarde. Durante o período, as crianças tinham alimentação, as aulas regulares e atividades esportivas e culturais. A idéia básica do Ciep é manter a criança na escola e longe das ruas o maior tempo possível. Descrevi tudo no passado porque esse sistema de escolas já existiu no do Rio de Janeiro, nos períodos em que Leonel Brizola foi governador do estado, mas foi sucateado pelos governadores seguintes.

Se pensarmos bem, vamos perceber que essa idéia é simples, porém genial. Se você mantém as crianças na escola a maior parte do tempo, passa a existir a possibilidade real de se formarem verdadeiros cidadãos, que não só sabem e exigem seus direitos, mas que também conhecem e cumprem seus deveres. E, é claro, a violência ia começar a diminuir, pois a bandidagem ia ter muito mais dificuldades para se renovar.

Acredito que no mínimo todos os professores do país deveriam ter votado no Cristóvam. Mas mesmo nessa classe, que é muito desvalorizada, é verdade, existem profissionais(?) com cérebro de amendoim, que não se interessam pelo agora, e portanto, não se interessam pelo amanhã. (este parágrafo foi só um desabafo!).

Cristóvam já foi Governador do Distrito Federal, mas quando concorreu à reeleição perdeu para o “dono” do DF, Joaquim Roriz. Na minha concepção isso conta negativamente, pois com a máquina pública na mão tudo deveria se tornar mais fácil (não estou falando de forma ilícitas). Conseguir apoios, mostrar as realizações, etc.

Apesar de ter perdido a reeleição no DF, em termos experiência em cargos executivos, considero Cristóvam mais preparado do que Heloísa Helena. Mas ele tem um problema, que o atrapalhou muito. Ele é pouco conhecido. Para querer ser presidente, o candidato tem que ser bastante conhecido. Eu gostaria muito que ele voltasse a ser Ministro da Educação. A mais remota possibilidade de o PDT apoiar o PSDB já me causa calafrios.

GERALDO ALCKMIN: Faz parte do PSDB desde o tempo em que tinha cabelo. Como ele cansou de dizer no horário eleitoral, começou cedo na política e atingiu seu ápice no Governo do estado de São Paulo. Em 1998 foi eleito vice-governador na chapa com Mário Covas. Com o falecimento de Covas (pensei em colocar “com o Covas na cova”, mas não ia ficar muito bom), Alckmin assumiu e fez um bom restante de mandato. Tanto que conseguiu a reeleição em 2002. Geraldo Alckmin tem o perfil de um gestor competente. Só que, por mais que se diga que hoje em dia não há ideologia política, existem diretrizes partidárias. E só comandam os partidos políticos aqueles que estão afinados com essas diretrizes.

Pois bem, o fato é que o PSDB é um partido de direita, baseado nos ideais neoliberais e, assim sendo, defende o Estado cada vez menos gestor e cada vez mais supervisor da economia, ou seja, trocando em miúdos, o restante das empresas estatais vai ser privatizado. Defende também o cerceamento dos direitos trabalhistas, a redução dos investimentos em infra-estrutura, educação, saúde, segurança, tudo em detrimento da economia.

Então, sendo Geraldo Alckmin do PSDB, e apresentando um projeto de nação, ele vai seguir as diretrizes do partido ao qual pertence. Ele pode (e deve) ter projetos individuais, mas o projeto de nação é do partido. Se alguém duvida de mim é só puxar um pouquinho pela memória e lembrar dos oito anos de Governo FHC. Vejam se o que aconteceu não foi exatamente o que eu disse no parágrafo acima.

Acredito que Alckmin seria um bom presidente SE não fosse do PSDB e se tivesse mais carisma. Outro político que acredito estar no partido errado, dada sua competência, é Aécio Neves, que será meu candidato a presidente em 2010 se NÃO estiver mais no PSDB.

No começo da campanha política, considerei a decisão do José Serra, agora governador eleito de São Paulo, a mais inteligente que ele poderia tomar: deixar o pepino de disputar a presidência (e perder) com o Lula para alguém mais mané. Por que aí em 2010 ele virá (se estiver vivo) lindo e fagueiro, sem concorrência (concorrência só nas prévias do PSBD, contra o Aécio) para ganhar a presidência, já que o Lula não tem e dificilmente terá alguém de peso pra apoiar.

Confesso que o Geraldo Alckmin me surpreendeu conseguindo ir para o segundo turno com o Lula. Mas, olhando friamente percebe-se que isso não aconteceu tanto por mérito dele, mas sim pelos escandalos sucessivos em volta do Governo.

Eu não quero mais quatro anos iguais aos oito do FHC. Para quem quiser então é só digitar 45.

LUIS INÁCIO LULA DA SILVA: O Lula, todos nós conhecemos. Era pra ter sido presidente em 89. Era pra ter sido presidente em 94. Era pra ter sido presidente em 98 (votei nele). Mas só conseguiu em 2002(votei nele). E, se olharmos os números deste governo, vamos perceber que são os melhores dos últimos 16 anos. Então qual é o problema? O problema não é o Lula, mas a sua ingenuidade. Nas derrotas de 89, 94 e 98 ele aprendeu que não poderia mais ser tão radical. Em 2002 ele veio mais moderado, centro-esquerda, aparecendo até de paletó e gravata, coisa que não fizera em nenhuma das eleições anteriores.

Mas Lula não percebeu o covil de víboras em que estava metido. Na época da eleição do Lula, um amigo meu dizia: “eu não tenho medo do Lula presidente, eu tenho medo é dos que estão em volta dele”. Pois é, os que estão em volta dele, destruíram em quatro anos a identidade do PT, que levou 21 anos para ser construída.

Os loucos por poder no PT não tiveram competência para manter em sigilo os esquemas que existem desde o início dos tempos republicanos brasileiros. E então tudo foi aparecendo em seqüência. Pura inabilidade do PT. É como dizia minha avó: “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”.

Independente de escândalos, o Lula vai ganhar as eleições (assim espero!) e vai ter mais quatro anos, agora sem Dirceus, Paloccis, Gushikens, Genoínos e outras espécies raras para atrapalhar.

Ele já quis revolucionar, dar calote no FMI, fazer reforma agrária, mas percebeu que não é assim que “a banda toca”. Tem é que continuar comendo pelas beiradas e fazendo o que for possível, nem sempre o que ele gostaria de fazer.

Bem, depois destas considerações, vou voltar ao motivo pelo qual teremos o segundo turno na eleição presidencial.

Porque Lula não compareceu ao debate? Qualquer um no lugar dele também não iria. Se fosse o Geraldo Alckmin, ele não iria. Se fosse a Heloísa Helena, ela não iria. Se fosse o Cristóvam Buarque, ele não iria. Se fosse o Curupira, o Zé Pelintra, a Vovó Mafalda eles não iriam. Ficou claro que se o Lula fosse ao debate, todas as perguntas direcionadas a ele seriam sobre o mensalão e os acontecimentos que se seguiram. Não haveria discussão de propostas, haveria uma chuva de acusações. Politicamente, a decisão do Lula foi “um golaço”, mas para a democracia, foi “um chute no saco”, pois fez parecer que o Presidente não se importa com a população, o que não é verdade.

Com isso, uma parte das pessoas que ia votar nele, acabou por mudar seu voto, como forma de protesto (idiota, é verdade). Foi uma grande parte? Não, não foi. Mas foi suficiente para tirar a possibilidade de vitória no primeiro turno. O curioso é que, neste segundo turno, dificilmente estas pessoas vão deixar de votar no Lula.

Com isso, o cenário político, então, não deve mudar. Pelo menos até 2010, quando as eleições presidenciais deverão pegar fogo. Espero estar vivo até lá. Não vou querer perder isso por nada.

No dia 29 próximo, irei descobrir se perdi meu tempo e só escrevi baboseiras aqui, ou se tive alguns acertos. Até lá!

Voto: Direito ou Dever?

Data: 12/10/2006

E o Povo Não Trocou o Certo Pelo Duvidoso

Todos felizes e contentes, menos quem perdeu, é claro.